Reflexão Por: Ygor Coelho

Reflexão Por: Ygor Coelho

Italianos em Cruz das Almas

Parte 3

Por: Ygor da Silva Coelho

Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil por volta de 1870, tendo a maior parte vindo entre 1880 e 1910.

Naquele final do século XIX chegou Francesco Paolo Chiacchio, um dos primeiros italianos a se estabelecer em CRUZ DAS ALMAS, na Bahia.

Os italianos chegaram trazendo na bagagem o desejo firme de progredir na nova terra, exercendo comércio, abrindo empresas, trabalhando nas lavouras ou em obras públicas.

Francesco Paolo Chiacchio era proveniente de Lauria, província de Basilicata, situada a 77 km de Nápoles. Apesar da rica história da região, da cultura e encantos naturais, as dificuldades econômicas da Itália na época forçaram a emigração. Diz um dos descendentes dos Chiacchios que um orgulho dos italianos da sua região de origem é por ela ser a terra natal da pizza!

Francesco Paolo Chiacchio ao chegar trazia algum recurso financeiro e iniciou a vida na Bahia percorrendo o Recôncavo como mascate. Com o tempo se identificou com Cruz das Almas, fixou moradia e passou a explorar as suas habilidades manuais, tornando-se alfaiate.

Os descendentes imediatos de Francesco Paolo foram o Sr. Albérico Chiacchio e Álvaro Chiacchio, já naturais de Cruz das Almas, que aqui cresceram e estudaram. Albérico tornou-se escriturário numa empresa local e Álvaro inaugurou uma loja de tecidos. Posteriormente, Álvaro se tornou mais conhecido de várias gerações cruzalmenses por criar a primeira banca de jornais e revistas, que funcionava na sua própria loja, à Praça Senador Themístocles.

Jornais diários e revistas de toda natureza, noticiosas e de variedades, como O Cruzeiro, Manchete, Realidade e Fatos e Fotos. E também de decoração, moda, arquitetura, bordado e infantis, como as de Disney davam movimento à loja e popularidade ao Sr.Álvaro, cuja simplicidade o permitia ser chamado apenas pelo apelido: Sr. VADENGUE.

Antes de se firmar na loja, Sr. Vadengue foi proprietário de um pensionato, quando a cidade já crescia e necessitava de hospedaria.

Três vocações os italianos traziam das origens: habilidade para o comércio, conhecimento sobre tecidos e talento para tear, produzir tapetes e costurar.

Dessa forma, os italianos deixaram suas contribuições para o progresso econômico, cultural e no vestir-se em Cruz das Almas.

Estima-se haver no Brasil cerca de 25 milhões de descendentes de italianos, a maioria vivendo nas regiões sul e sudeste. Por aqui, embora em número muito menor, estão os descendentes dos Chiacchio, Alfano e Galotti, famílias bem sucedidas que honram a origem e a terra que os acolheu. Dentre esses, dois destacados colegas agrônomos, Edson Chiacchio e Francisco Paulo Chiacchio, este último ganhou o nome do avô italiano, Francesco Paolo!

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Reflexão Por: Ygor Coelho

Uma história natalina…

Por: Ygor da Silva Coelho

Além de enfatizar o espírito natalino, esse texto é uma homenagem ao Dr. REINALDO DAMASCENO SOUZA.

Aproxima-se o Natal, lojas e ruas da cidade ganham luzes e decoração. Ao ver o movimento de lojistas com o trabalho de ornamentação, lembro-me de anos passados na nossa Rua Leonel Ribas.

A rua de curta extensão, tinha árvores frondosas (castanheiras) em ambos os lados, pouco movimento de carros e segurança. À sombra das árvores gurias brincavam de “baleado” e de cantigas de roda e os rapazes jogavam futebol.

Foi nessa época que o casal de médicos, Dr. Reinaldo Damasceno Souza e Dra. Rita Ramos Souza, vindos da cidade do Prado-BA, passaram a residir na Leonel Ribas, em Cruz das Almas.

Anualmente, às vésperas do Natal, num gesto de doação, o Dr. Reinaldo, por conta própria, se encarregava de ornamentar as castanheiras da rua com lâmpadas multicoloridas.

A iniciativa do Dr. Reinaldo não tinha o sentido apenas de embelezar nosso ambiente e celebrar o Natal. Era um presente para seus vizinhos, uma forma de socializar e uma maneira de dizer ao mundo que o nosso espaço não deve apenas se restringir ao que está no interior do nosso muro, por trás das portas que se fecham. Nosso espaço é o todo: O nosso bairro, a rua, a cidade.

Enquanto morou na Leonel Ribas, Dr. Reinaldo fez a diferença. E todo aquele que faz a diferença fica lembrado pelas boas marcas deixadas.

Hoje eu pintei um muro próximo para refazer um canteiro de flores e evitar que joguem lixo na esquina. Enquanto fazia o meu simples trabalho voluntário, lembrei do grande médico Dr. Reinaldo Damasceno Souza. Um cidadão que passou por nossa rua, deixou bons rastros, fez a diferença e se tornou inesquecível. Um exemplo a seguir!

O que fiz foi um nada, comparado ao que ele fazia e, é provável, continue fazendo no seu novo endereço.

Bravo, Dr. REINALDO!

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Reflexão Por: Ygor Coelho

Italianos em Cruz das Almas

Parte 2

Por: Ygor da Silva Coelho

Esse texto é continuação do histórico da chegada de imigrantes à Cruz das Almas, ocorrido no início do século XX, suas vidas e contribuições ao desenvolvimento. Um dos imigrantes, o Sr. VICENTE ALFANO

Os dois lugares mais prováveis para conversar calmamente com Vicente Alfano era na saída da missa na igreja da Matriz, que ele frequentava religiosamente, ou na sua barbearia preferida, na Avenida Alberto Passos.

Na barbearia, interrompendo sua prosa com os amigos, levei algumas vezes músicas italianas para ele me traduzir, no tempo em que não havia Google:

🎶”Volaré, oh-oh

Cantaré, oh-oh-oh-oh

Nel blu dipinto di blu

Felice di stare lassù…”

Numa dessas conversas, Sr. Vicente me contou que nasceu em Lagonegro, na província de Potenza. E relatou um fato histórico da sua região na Itália que me deixou surpreso: “Em Lagonegro encontram-se os restos mortais de Lisa Gherardini, a provável modelo de Leonardo da Vinci para a pintura da Monalisa. Lisa Gherardini faleceu no local durante uma viagem com o marido, um negociante de peles.”

Dada à genialidade do pintor, o valor e fama da sua pintura, foi construído o Monalisa Museu em Lagonegro, mesmo local do nascimento de Vicente Alfano.

O Sr. Vicente contava que viveu várias fases de Cruz das Almas. A cidade de ruas estreitas, sem pavimentação e com muitas casas cobertas de palha. Posteriormente, como comerciante, participou do desenvolvimento e conviveu com as mudanças. Acompanhou a chegada da Escola Agronômica, do Banco do Brasil, Instituto Baiano do Fumo, Instituto de Pesquisa IPEAL/Embrapa e empresas como a Suerdieck. Viu o crescimento da indústria fumageira, a transformação de Cruz das Almas na Capital do Fumo e a posterior retração do agronegócio fumageiro.

Em 1939, eclodiu a Segunda Guerra Mundial e a Itália, governada por Benito Mussolini, alinhou-se com a Alemanha de Hitler. O Sr. Vicente já residia em Cruz das Almas há 14 anos, era um homem e admirado, nunca deixou de contar com a cordialidade dos cruzalmenses. Era um democrata, jamais se alinharia com as ideias de Mussolini. Noutros estados brasileiros, cidadãos italianos chegaram a ser hostilizados, mas aqui prevaleceu a compreensão dos fatos.

Vivendo em Cruz das Almas durante quase 80 anos (sua chegada foi em 1925), o italiano Vicente Alfano conquistou o seu espaço, criou raízes, constituiu família, manteve comércio de tecidos, vestiu a sociedade e gerou empregos com a sua Loja Alfano, localizada na Praça Senador Themístocles.

Faleceu aos 102 anos de idade, em 2012. Como muitos que vieram da Itália para o Brasil, fez história, ajudou o desenvolvimento, deixou marcas, merece ser lembrado.

Vicente Alfano foi último imigrante italiano daquele período histórico na nossa cidade.

FOTOS 1. Monna Lisa Museum

  1. Basilicata Nel Cuore

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Reflexão Por: Ygor Coelho

Jayme Fygura: Um cruzalmense famoso que nos deixa

Por: Ygor da Silva Coelho

Se você estiver seguindo com uma câmera ou celular e observar uma cena digna de registro, clique! Se for uma pessoa, uma personalidade, consulte, peça permissão, tente fotografar, registrar o momento, a história.

Eu não conhecia Jayme Fygura até o dia em que, caminhando em Salvador pela Avenida Sete, dei de frente com uma pessoa vestida com uma armadura de ferro. Totalmente coberto, logo imaginei ser um artista, poeta, um visionário. E pedi permissão para fotografá-lo.

Não precisava ver a face, nem as mãos, para perceber a energia e a simpatia que, fantasticamente, emanava daquela figura que se identificou para mim: Jayme Fygura.

Pedi para fazer uma foto, ele fez pose, fiz vários cliques. Agradeci e, somente depois, descobri que estive com um conterrâneo cruzalmense, querido e famoso, lendário e emblemático. Jayme Fygura era filho de Epifânia e Arlindo Andrade de Almeida, um integrante da Marinha Mercante, que, por razões profissionais, se mudou para Salvador.

Hoje recebi a notícia do falecimento de Jayme Fygura, um artista pouco conhecido aqui na sua cidade, mas admirado em Salvador e noutros estados.

Jayme Fygura era a arte performática caminhante. Por que se vestia daquela maneira? Por que escondia o rosto e todo o corpo? Como confeccionava as armaduras?

Por ser conterrâneo, por ser artista, por ter lido que Jayme Fygura teve um período de dificuldade financeira, eu poderia ter ido visitá-lo em seu atelier, no centro histórico de Salvador. Eu poderia convidá-lo a vir à sua cidade natal, mostrar o seu trabalho. Não fiz nada disto. E Jayme Fygura faleceu aos 64 anos.

Atualmente, preparava com o artista plástico Leonel Mattos, seu grande amigo, obras para uma exposição em São Paulo em 2024. Faleceu antes!

Existem iniciativas que se não forem tomadas, amanhã será tarde. Jayme Fygura fez fotos comigo sem saber quem eu era, sem saber que estava diante de um conterrâneo. Agora é tarde para lhe abraçar.

Vá em paz, conterrâneo! Você marcou na vida! Fez arte e fez a diferença!

Foto: Eduardo Araújo

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Reflexão Por: Ygor Coelho

ITALIANOS EM CRUZ DAS ALMAS

Parte 1

Por: Ygor da Silva Coelho

Depois de descrever a chegada e HISTÓRIA DE ISRAELITAS em Cruz das Almas, centrada na família da professora Tillie e do professor Moysés Waxman, o atual texto enfoca a COMUNIDADE ITALIANA na nossa cidade.

Os italianos foram mais numerosos e anteriores aos israelitas. O italiano Vicente Alfano, que nos deixou em 2012, aos 102 anos de idade, tinha satisfação em contar a sua longa e rica história, cujos detalhes guardava nítidos na memória. O sotaque do Sul da Itália, um dos traços da sua conversa, ele carregou ao longo da vida, até partir, aos 102 anos de idade.

Era uma satisfação conversar com Vicente Alfano. Nascido em Lagonegro, saiu de Nápoles em 28 de agosto de 1935. O navio em que veio fez escalas em Gênova, Recife e Salvador. Na capital baiana, tomou o navio da CNB- Companhia de Navegação Baiana – e viajou pelo Rio Paraguassu até Cachoeira, encantado com a paisagem e a exuberância verde, diferente de tudo que havia visto na vida. Tinha na época 25 anos de idade.

De Cachoeira, seguiu de carro até Cruz das Almas ao encontro do irmão Pascoal Alfano e do casal de tios comerciantes aqui residentes.

Pascoal havia chegado em 1915, um ano após o início da Primeira Guerra Mundial, numa sofrida viagem, ainda em barco a vapor. Naqueles anos a Europa vivia em crise e o governo brasileiro estimulava a imigração.

Por mais distante no tempo que possa parecer a chegada dos Alfanos, já se encontravam aqui conterrâneos como Leopoldo Cezarano, João de Calucci, (Giovanni Calucci), Francesco Paolo Chiacchio, Paolo e Julio Gallotti. À exceção de Francesco Paolo que era alfaiate, os demais foram negociantes, que, viajando por diferentes cidades, viram futuro na Cruz das Almas que emergia e se estabeleceram na cidade.

A imigração italiana no Brasil foi intensa entre 1880 e 1930, período que coincide com a chegada dos italianos na Bahia.

Pelo muito que contribuíram, para nossa honra, podemos chamá-los de ítalo-cruzalmenses. Eram homens empreendedores que abriram comércio, construíram suas residências e deram suas contribuições para o desenvolvimento do local, caracterizado pela existência de uma cruz onde paravam os viajantes para orar, daí resultando o nome: Cruz das Almas.

Todos constituíram famílias, cujos descendentes permanecem imbuídos do sentimento de desenvolver Cruz das Almas. Casado com Dona Maria José Alfano, o Sr. Vicente teve três filhas: Rosa, Valéria e Ângela. Do casamento anterior, Agnese e Giovanni, tendo o primogênito falecido precocemente.

No próximo capítulo, as iniciativas dos italianos em nossa cidade, seus descendentes e as transformações no decorrer do século passado.

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