Você reparou que, nos últimos meses, apareceu um novo Leite Moça no mercado? A embalagem é marrom e traz uma mudança nos ingredientes usados. Esse é apenas um entre vários lácteos modificados que ganharam espaço.
São muitos os exemplos. Leite virou bebida láctea. Creme de leite se transformou em “mistura de creme de leite”. Queijo ralado agora é “mistura alimentícia de queijo ralado”. E até o doce de leite foi substituído por “doce de soro de leite SABOR doce de leite”.
Mas o que está por trás do fenômeno? O custo de produção do leite subiu 62% no Brasil durante os últimos dois anos. Com o aumento dos preços, muitos produtores se desfizeram da parte menos produtiva do rebanho. Para piorar, estamos nos meses de entressafra.
Isso fez com que os lácteos se tornassem um dos “vilões da inflação” de 2022. De acordo com o IPCA, o leite longa vida acumula uma alta de 57% no ano. Só em julho, houve um aumento de 19% no leite condensado, 17% na manteiga, 16% no queijo e 14% no requeijão.
Com menos matéria-prima e a subida nos preços, as versões “alternativas” ganharam mais espaço nas gôndolas. Em linhas gerais, elas substituem parte do leite por outros ingredientes, como soro de leite, amido, gordura vegetal, açúcar e aditivos químicos.
O soro de leite é um subproduto da fabricação de queijos (para ter ideia, um quilo de queijo gera 8 litros de soro, mais ou menos). Esse produto traz menos nutrientes que o leite “inteiro”, mas pode ser consumido e é usado há tempos.
Mas muitas vezes, a simples troca do leite pelo soro não é suficiente para manter as características do produto. É aí que entram os outros ingredientes, como amido, gordura vegetal, açúcar e aditivos (corantes, emulsificantes, adoçantes…).
A venda desses produtos está regulamentada pela Anvisa. O problema, segundo especialistas, é que muitos dos lácteos alternativos possuem embalagens muito parecidas às originais ou remetem ao leite tradicional, com imagens de vacas e pastos.
Mas o consumo constante de muitos desses itens pode representar um prejuízo nutricional. Alguns trazem açúcar adicionado e têm aditivos químicos. Eles são considerados alimentos ultraprocessados, cujo consumo é desaconselhado pelo próprio Ministério da Saúde.
Há também prejuízos culinários: muitos desses produtos são usados em receitas típicas, mas não têm os mesmos atributos. Com isso, o brigadeiro pode não ficar no ponto (quando ele começa a desgrudar do fundo da panela) e o pudim não ganha consistência.
Para piorar, alguns desses lácteos “atualizados” têm um preço muito semelhante aos produtos “originais” — em alguns casos, a diferença é de apenas alguns centavos. Bom, mas como saber quando estamos comprando gato por lebre? A dica mais importante é ficar de olho no nome oficial do produto, que aparece em letras menores na frente da embalagem. É ali que você vai ler “leite condensado” ou “mistura láctea”.
Vale também ver a parte de trás do rótulo, principalmente a lista de ingredientes. Se itens como “açúcar”, “xarope de glicose”, “conservantes” e “gordura vegetal” aparecem logo no início, é bom ligar o sinal de alerta, de acordo com os especialistas.
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