Tiros dos mais diversos calibres, inclusive de fuzil, cortam o céu constantemente, e moradores vivem dias de terror com a escalada da violência em Salvador e região metropolitana. Isso porque de janeiro até o dia 28 deste mês, foram registrados 939 tiroteios, segundo o Instituto Fogo Cruzado. Uma média de 4,5 confrontos por dia entre traficantes e também em ações policiais. Desse total, 711 pessoas morreram.
Ainda de acordo com os dados, 900 pessoas foram baleadas e apenas 189 sobreviveram. Dos 939 confrontos, 341 ocorreram em ações policiais. Já no primeiro semestre deste ano (até junho), o Fogo Cruzado registrou 792 tiroteios com 759 vítimas. Em média, foram 132 tiroteios por mês e aproximadamente quatro por dia entre janeiro e junho de 2023.
“São bairros violentados, e a gente precisa ver que existe uma mobilização de organizações ligadas ao tráfico de drogas e de armas do Sudeste para o Nordeste, a Bahia, em particular, e uma pulverização desse comércio, o que tem ampliado o número de conflitos. Em paralelo, o Estado continua optando pela mesma lógica de incentivo ao confronto, ter uma polícia muito letal e que participa de cerca de 35% dos tiroteios que a gente monitora, além da ocupação de territórios negros e periféricos”, declara o sociólogo Dudu Ribeiro, da Iniciativa Negra, organização da sociedade civil parceira do Fogo Cruzado na Bahia.
O instituto usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia. Com uma metodologia própria, o laboratório de dados da instituição produz 40 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Recife, Salvador e, futuramente, Belém.
Segundo Ribeiro, para se ter um ambiente seguro, é preciso prevenir a violência. Neste caso, o Estado deve investir na formação dos agentes de segurança pública e, principalmente, nas comunidades e nas pessoas que sofrem essa violência. “ O primeiro ponto é acreditar que se faz segurança pública com ciência. A gente precisa produzir melhores dados. A Bahia está entre os piores do Brasil na produção e transparência de dados. Se se faz boas políticas públicas se a gente sabe onde está incidindo. É preciso entender que as políticas de segurança não precisam ser feitas somente pelas polícias. O Estado precisa entender que as secretárias ligadas à educação, cultura, trabalho e justiça têm um papel a cumprir na segurança pública”, declarou Ribeiro.
Para o coordenador do Ideas (Assessoria Popular), Wagner Moreira, a violência “tem se dinamizado nos últimos anos e compreendê-la é importante para construir novas estratégias na política de segurança mais inteligentes e menos engessadas”. “Não é a primeira vez que ocorre alta da violência letal associada à disputa de facções nacionais em territórios soteropolitanos. A guerra entre facções ‘atrai’ resposta institucional. E passamos a ver no mesmo território a guerra entre o ‘mundo do tráfico’ e em paralelo a guerra entre a polícia e o tráfico. Estas guerras respondem a parte significativa da violência territorial. É imprescindível discutir o fracasso do modelo de ‘guerra às drogas’ e seu impacto nos territórios negros”, pontou.
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