Reflexão Por: Ygor Coelho

NOSSA FEIRA: NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO

Ygor da Silva Coelho

Se me perguntassem qual o maior centro cultural de Cruz das Almas eu certamente não citaria instituições federais, nem as instituições de ensino superior. A feira livre é a maior expressão econômica e sociocultural da cidade. Ali as leis de mercado, oferta e procura, imperam com precisão, sem a presença de teóricos.

A infinidade de produtos não está contida em nenhum supermercado que se conheça, nem provavelmente na maior central de abastecimento do Brasil, a Ceagesp. Duvido que em qualquer atacadão se encontre pulseira de orixá, Pombagira, fruta-do-conde sem caroço, fruta-pão com caroço, jaca de bago vermelho, remédios naturais de toda ordem e origem. Pense algo estranho… Colher de pau? Tem! Cofre em forma de porquinho, pintado com escudo de time de futebol? Escolha o time. Barcelona? Tem! Enfim, tem tudo! E a tradição sobrevive em paralelo com a modernidade. Outro dia fui comprar farinha, esqueci a carteira no carro. Na hora de pagar, procura aqui, procura ali, o comerciante logo encontrou a solução. Pode ir, depois faça um PIX, minha chave é…

Na feira livre todos se encontram no final de semana. O pequeno agricultor da Serra da Copioba, o mascate do Sertão, o turista da capital que admira as tradições vivas. O padre, o bispo, o herege, o gerente do banco, seu cliente, a dona de casa, o médico, o delegado, o meliante… E tem o mais belo encontro que é o das frutas, com suas cores e as flores. Manga, caju, melancia, mangostão, morango, mangaba, mamão… Rosas, cravos, crisântemos, cactos…

A feira tem costumes que ninguém tira. Por exemplo,a pechincha. Em supermercado ninguém barganha:

-Quanto custa o quiabo, moço?

  • A dúzia está a R$6,00!
    -Tá louco? Caruru caro da peste!
    -Faço R$5,00!

Caminhando outro dia vi umas calças Dijon. Mas essa grife não acabou? Prestei atenção, era D’Jon. Aqui tem tudo, até o que não existe mais!

Cruz das Almas ainda não despertou que a sua feira livre pode se tornar um ponto turístico. Como fez Caruaru em Pernambuco. E com uma melhor organização das barracas, um esmero na sua limpeza ela poderá um dia também ter um portal de entrada “Feira de Cruz das Almas: Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia”.

Sempre sonhei ver nas avenidas de Salvador “outdoors” convidando turistas:
Caruaru é longe! Cruz das Almas está ali! Bem mais perto! VISITE

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