Jiló dança, faz ri, pede, às vezes assusta. Mas, para a Prefeitura de Cruz das Almas, ele não existe. Sua história reflete a realidade de milhares de pessoas em situação de rua no Brasil: vidas marcadas pela falta de apoio e pelo descaso público.
Anderson Carlos Souza dos Santos, conhecido como Jiló, tem 28 anos. Na adolescência, destacava-se no futebol, capoeira e boxe, mas problemas de saúde mental o levaram às ruas. Sua trajetória escancara a distância entre os direitos garantidos pela lei e a realidade de quem vive à margem.
A população em situação de rua cresce, o apoio não
No Brasil, mais de 300 mil pessoas vivem nas ruas, segundo o Cadastro Único — um aumento de 935% em uma década. Essas pessoas enfrentam fome, frio, violência e o agravamento de problemas de saúde mental. No caso de Jiló, o rompimento familiar não foi completo: seus parentes até tentam ajudá-lo, mas esbarram na falta de políticas públicas eficazes.
O direito à saúde que não chega também às ruas
Embora a Constituição garanta a todos o direito à saúde, Cruz das Almas, com 62 mil habitantes, oferece pouco para quem vive nas ruas. A cidade conta com um único centro básico de atendimento em saúde mental e serviços psiquiátricos limitados, mas não tem abrigos ou programas específicos para essa população.
Sem acolhimento e suporte, pessoas como Jiló ficam ainda mais vulneráveis, com poucas chances de recuperação e ressocialização.
A história de Jiló e a falta de resposta do sistema
A saúde mental de Jiló se agrava diariamente. Apesar de sinais evidentes de transtornos graves, ele não recebe tratamento adequado. Mesmo com uma vaga conseguida pela família em setembro para uma unidade especializada, a falta de protocolos claros e barreiras burocráticas impediram sua internação.
Em Cruz das Almas, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) depende da Polícia Militar para casos de surto, mas a polícia alega não poder intervir. Existe legislação que limita o poder da polícia nestes casos. Sem equipes capacitadas ou fluxos organizados, histórias como a de Jiló permanecem invisíveis. Um pesadelo.
O que precisa mudar
Cruz das Almas precisa urgentemente de ações integradas para atender à população em situação de rua e cuidar da saúde mental. Entre as medidas necessárias estão capacitação de equipes de saúde e assistência social, criação de abrigos ou centros de acolhimento, definição de protocolos claros para lidar com surtos psicóticos e articulação entre saúde, segurança e justiça.
Por que isso importa
Jiló não é apenas um rosto anônimo nas ruas. Ele representa o fracasso de um sistema que não oferece o básico: dignidade e cuidado.
Ignorar histórias como a de Jiló é perpetuar o sofrimento. Enxergar essas vidas é o primeiro passo para mudar uma realidade cruel. É hora de agir — como sociedade e como poder público.
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