Por Ygor da Silva Coelho
Hoje resolvi caminhar por Cruz das Almas e celebrar a cidade que me acolheu, na época um garoto, com apenas 15 anos de idade.
Se tivesse que destacar uma sensação positiva daquele momento ao chegar à Cruz das Almas, eu diria o acolhimento.
Passado tanto tempo, caminhando por suas ruas, lembro-me quais as três primeiras pessoas que conheci na cidade: Antônio Luiz Oliveira Alves, Soninha Souza e Cloildo Guanaes.
Filhos da terra, Antônio Luiz e Sonia deram-me as dicas iniciais. E mais, que isso, almoço aos domingos, convites para aniversários, carurus e tudo que se comemorasse em suas casas. Eu era quase menino, mas já apreciava uma boca livre!
Os colegas citados foram o amparo inicial e, posteriormente, fundamentais na minha formação.
Para quem vinha de Ilhéus, com o mar à frente, aquelas amizades amenizavam algumas saudades. Minha praia, meus amigos, meu clube…
Caminhando por Cruz das Almas segui revisitando lugares, acho a cidade maravilhosa. Não só pela gratidão que carrego por tudo que me possibilitou, também por causa de suas ruas largas, extensas, arborizadas e planejadas. Abençoados sejam os que a projetaram assim no passado, pensando nas gerações futuras.
O movimento atual, o comércio, muitos carros e motos dão-lhe a dinâmica que não havia quando cheguei. O crescimento trouxe riqueza, mas silenciou a poesia.
Em cada quarteirão leio um trecho da minha história. Vejo que a república estudantil “Paraíso dos Inocentes” agora é um centro comercial e a república “Atalaia”, uma clínica médica. A pensão de Nelson permanece como antes, mas a padaria de Deraldo (Del te Ama) agora é loja de variedades.
Falando em Deraldo, tenho a visão do romantismo de outrora. A padaria era mais que simples panificadora, era lanchonete, café, “pub”, bar, “point”.
Um dia Deraldo teve a ideia de colocar, do outro lado da calçada, sombreiros e mesinhas inox de fino gosto, como as da Cubana e do bar Oceania, em Salvador.
Os garçons, Antônio (Coringa) e Clementino (Premiado), atravessavam a rua levando-nos chopes, sucos e drinques. As gurias do colégio CEAT, circulando pela praça passavam pelas mesinhas e, lógico, nem sempre resistiam aos convites para repartir os quindins e brigadeiros. Os quindins não combinavam com o chope, mas o garçom Premiado os levava sabendo das intenções.
Se Hemingway, que a gente tanto lia, tinha o Café de Flore e Les Deux Magots, a gente tinha a padaria, lanchonete, “pub”, bar de Deraldo!
Esse é um dos retratos que guardo da minha Cruz das Almas dos anos 1970.
Compartilhe esta notícia
Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Jornal Zero75. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.