Coordenador geral da FUP destacou o vigor da entidade no cumprimento da autonomia e independência sindical
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) decidiu encerrar ontem a vigília que montou em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em defesa de aposentados, aposentadas e pensionistas da Petrobras que continuam até hoje sem receber integralmente os seus benefícios por causa dos descontos impostos pelos Programas de Equacionamento de Déficits (PEDS) do fundo de pensão Petros, implementados pela Petrobras nos últimos anos. Em busca de uma solução definitiva para o problema, a FUP montou um acampamento durante 15 dias em frente à sede da empresa, mas decidiu encerrar a vigília nesta quinta-feira.
De acordo com o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, a presidente da Petrobras Magda Chambriard e a diretora de Assuntos Corporativos da empresa, Clarice Coppetti, se comprometeram em criar uma comissão quadripartite, com a participação de representantes da Petrobras, da Petros, das entidades que formam o Fórum em Defesa dos Participantes e Assistidos da Petros, além da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC).
“A comissão já foi formalizada e deve se reunir na próxima semana”, destacou Bacelar, acrescentando que “muitas pessoas questionaram a atual gestão da FUP por ter um direcionamento de apoio ao governo Lula. Alegaram que não faríamos mais paralisações, atos ou greve por estarmos apoiando o governo. Destacamos o nosso vigor em cumprir o princípio da autonomia e independência sindical diante dos governos e diante dos patrões”, pontuou.
Ainda segundo Bacelar, essa vigília ajudou a pressionar a atual gestão da empresa para que haja avanços na negociação. “Se as reuniões não forem iniciadas, nós retomaremos a nossa vigília em frente da Petrobras. Estamos deslocando a nossa luta para Brasília, mobilizando aposentados e pensionistas para lá”, avisou o coordenador da FUP.
“É inadmissível que tenhamos ainda trabalhadores e trabalhadoras que contribuíram por 40 anos, ou seja, durante toda sua vida laboral, cheguem agora aos seus 65, 70 ou até mesmo 80 anos, sem direito a receber uma aposentadoria digna. Temos aposentados e aposentadas que estão sem receber o benefício para pagar suas contas”, lamentou, lembrando que o déficit da Petros não é pequeno, de R$42 bilhões, mas os trabalhadores não podem ser responsabilizados pelos erros de gestão da Petros. “Os trabalhadores sequer têm acesso à gestão da Petros, diferente de outros fundos de pensão, como a Funcef, onde metade da diretoria é eleita pelos trabalhadores, participantes e assistidos. Na Petros, infelizmente, isso ainda não ocorre e essa também é uma cobrança. Nós temos um acordo de obrigações recíprocas de 2007 onde teríamos direito à metade da diretoria eleita”.
Governo Lula sob pressão
Questionado se o movimento sindical estaria prejudicando o governo Lula, Deyvid Bacelar foi incisivo ao afirmar que essa pressão à esquerda é fundamental para que o governo Lula cumpra aquilo que se propôs em seu programa de governo.
“Sabíamos que seria assim. Ninguém está iludido ouv decepcionado. Fomos eleitos após a formação de uma frente amplíssima para vencer a extrema direita e o fascismo aqui no Brasil, e isso deve ocorrer agora também em um país como a França, ou mesmo na Argentina, onde há hoje um grande pleito para que a esquerda e os liberais democratas se unam contra o governo Milei, já pensando nas futuras eleições”, avaliou Bacelar.
Para o coordenador da FUP, o governo Lula tem sido pressionado pelo mercado e pelos grupos de direita.
“Ganhamos a eleição com a frente ampla e há um governo de coalizão. Sabíamos que haveria disputas internamente no governo do presidente Lula e que ele seria pressionado à direita. Sabíamos também que o movimento sindical e os movimentos sociais precisariam cumprir o seu papel”, apontou.
“Nesse governo do presidente Lula, de ampla coalizão e em plena disputa, ele precisa também ser pressionado, ou ter o suporte, das massas. Se isso não ocorrer, se não houver uma guinada dos movimentos sociais e da classe trabalhadora brasileira em suporte e pressão ao mesmo tempo, nós infelizmente veremos o presidente sendo pressionado cada vez mais à direita, que não dará a ele nenhuma margem para que ele possa cumprir o seu programa de governo, aprovado nas urnas pela população brasileira”.
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