O aumento no número de casos da covid-19 na Bahia colocou a doença novamente como tema de rodas de conversas de amigos e familiares. Em um mês, entre 14 de outubro e a última segunda-feira (14), 4.624 novos casos foram identificados no estado e 63 pessoas vieram a óbito, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). Na sexta-feira (18), o Conselho Estadual de Saúde (CES) enviou aos governos federal e estadual recomendações urgentes para frear a disseminação acelerada do vírus.
Retorno da obrigatoriedade de apresentação do cartão de vacina em locais de aglomeração, ampliação de testagem e aceleração da vacinação estão entre as medidas indicadas pelo Conselho. A medida leva em consideração a disseminação das subvariantes da Ômicron e a alta nas hospitalizações.
No Hospital Espanhol, reativado na Barra por conta da pandemia, o clima de tensão voltou a pairar. Em pouco mais de duas semanas, houve um aumento de 73% no número de internamentos. A ocupação da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) chegou a 85% na manhã de sexta-feira (18), com 34 dos 40 leitos ocupados majoritariamente por pacientes acima de 60 anos, com comorbidades e esquema vacinal incompleto.
“Desde setembro soubemos das subvariantes da Ômicron e progressivamente os casos foram aumentando, mas não esperávamos que nesses últimos dias fosse ter um aumento tão expressivo”, afirma Thaísa Ribeiro, enfermeira responsável pela gestão de leitos do Espanhol. A situação na enfermaria da unidade é melhor: dos 40 leitos, 10 ainda estão disponíveis.
O prefeito Bruno Reis disse na quinta-feira (17) que não descarta a ampliação de tendas e gripários em Salvador. A prefeitura também decidiu reativar pontos de drive-thru para a vacinação.
O virologista Gúbio Soares explica que já era esperado que o vírus da covid-19 se multiplicasse em formatos de novas cepas. Essa é a forma que o micro-organismo encontra para continuar circulando entre os seres humanos. Por isso, o especialista indica que cuidados sejam retomados para que medidas de isolamento social não voltem a acontecer no país.
Na Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde alunos e professores já estavam deixando de usar máscaras nas salas de aula, o Comitê de Assessoramento da Covid-19 da universidade emitiu um comunicado no qual recomenda o uso em ambientes fechados por conta do avanço das subvariantes. Um concerto que aconteceria no Museu de Arte Sacra na sexta-feira (18), precisou ser adiado depois que oito músicos da orquestra sinfônica da Ufba testaram positivo para a covid.
Aplicação da quinta dose começa em Salvador
Em meio a alta de casos, a Secretaria de Saúde de Salvador (SMS) começou a aplicar a quinta dose da vacina contra a covid-19, ou terceira dose de reforço, em pacientes imunossuprimidos com mais de 18 anos. É preciso estar com o nome na lista do site da SMS e ter tomado a quarta dose até o dia 17 de julho deste ano. Em um dia, 519 pessoas foram aos postos para se imunizar com a quinta dose.
A Sesab não informou quantas cidades do estado já estão aplicando a quinta dose, mas além da Bahia, outros seis estados do Nordeste já disponibilizaram o reforço. Dos nove estados da região, apenas Piauí, Ceará e Pernambuco não ofereceram a quinta dose à população. O Ministério da Saúde ainda não emitiu parecer técnico sobre a aplicação da quinta dose.
Enquanto isso, mais de 7,5 milhões de baianos continuam com o esquema vacinal incompleto, segundo a Sesab. Júlia Sobral, 21, é uma das pessoas que se imunizou até a terceira dose. A jovem contraiu covid-19 pela segunda vez nesta semana, depois de uma confraternização familiar. Além dela, a namorada, a mãe e primos estão contaminados. “Comecei a ter sintomas de gripe na segunda-feira e senti muita fraqueza”, conta.
Júlia Sobral e parte da família estão em isolamento social até não transmitirem mais o vírus, mas a estudante acredita que a maior disseminação do vírus tem a ver com o relaxamento de pessoas sintomáticas.
“As pessoas estão negligenciando os sintomas, acham que é só gripe e não estão nem fazendo teste”, diz.
Autoridades em saúde cobram vacinas de 2º geração
Países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido já estão aplicando as vacinas de 2º geração contra a covid-19. Ao contrário dos que são aplicados atualmente no Brasil, os imunizantes das farmacêuticas Moderna e Pfizer foram desenvolvidos a partir da variante Ômicron, o que aumenta a efetividade contra as novas cepas. No documento enviado pelo Conselho Estadual de Saúde, é recomendada a disponibilização em caráter emergencial das vacinas bivalentes de 2ª geração.
A Sociedade Brasileira de Infectologia também recomendou ao Governo Federal que as novas vacinas sejam disponibilizadas no Brasil. Procurado, o Ministério da Saúde não informou se há previsão de importação de novos imunizantes e disse apenas que “acompanha com atenção estudos e inovações tecnológicas relacionados à prevenção e tratamento da covid-19”.
“É preciso seguir as recomendações das doses de reforço, mas é muito importante que os governos importem as vacinas novas, que são feitas a partir das variantes e protegem contra elas”, reforça o virologista Gúbio Soares.
Recomendações do Conselho Estadual de Saúde na íntegra:
Art. 1º Recomendar ao Ministério da Saúde, ao Conselho Nacional de Saúde – CNS, à Secretaria Estadual de Saúde do Estado da Bahia, às autoridades sanitárias, aos gestores públicos municipais e ao governador do Estado da Bahia que, à luz das competências constitucionais e do dever de garantir e proteger a saúde da população, atuando para a redução do risco de adoecimento:
I – a adoção de medidas eficazes, quanto à cobertura vacinal contra Covid-19 afim de controlar e reduzir a propagação do coronavírus, como as sublinhagens, derivada da variante Ômicron, visto que a imunização é umas das ferramentas mais eficiente e segura para prevenir doenças infecciosas;
II – o retorno da obrigatoriedade da apresentação do cartão de vacina da Covid-19 em espaços de grande concentração de pessoas, bem como que sejam retomadas as ações estratégicas para aceleração da vacinação contra Covid-19, ações essas que surtirão efeito positivo na cobertura vacinal, facilitando dessa forma o acesso à população;
III – a disponibilização, em caráter emergencial, vacinas bivalentes de 2ª geração para suprir a população;
IV – a ampliação do estímulo à testagem da população para identificação de casos e adoção de medidas de contenção da disseminação.
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