Em desabafo testemunhado por um par de auxiliares, Jair Bolsonaro queixou-se da decisão de Luiz Inácio Lula da Silva de comparecer à conferência climática da ONU, a COP27, no Egito. Chamou o sucessor de “usurpador”. Acusou-o de vestir a faixa presidencial antes da hora. “Ainda sou o presidente, porra!”, declarou, como se desejasse convencer a si mesmo de que nada mudou.
O encontro começa neste domingo e vai até 18 de novembro. Lula comparecerá na segunda semana. Não irá como penetra. Após triunfar nas urnas, recebeu um convite formal do anfitrião, o presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi. Pária orgulhoso, Bolsonaro preferiu não comparecer. Sua ausência empurrará mais holofotes na direção de Lula.
Na interpretação torta de Bolsonaro, Lula vai à COP27 para “falar mal do Brasil”. Ignora o fato de que a gestão ruinosa do seu governo no setor ambiental não se confunde com a imagem do Brasil. Tratado como estrela, Lula vê a cúpula climática como palco providencial para a retomada do protagonismo ambiental do Brasil.
A reversão da imagem tóxica não exigirá grande esforço. Bastará a Lula sinalizar que seu governo enviará de volta para o estábulo toda a boiada que passou sob Bolsonaro, favorecendo o crime ambiental em detrimento da fiscalização. Lula cogita anunciar no Egito o nome do futuro ministro —ou ministra— do Meio Ambiente.
Entre os chefes de Estado que desfilarão pelo tapete vermelho da COP27 estão o americano Joe Biden, o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz. Para desassossego de Bolsonaro, o ambiente da conferência climática favorece as conversas bilaterais.
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