Em Cruz das Almas, a chegada do São João reacende um debate que atravessa gerações: a repressão à tradicional queima de espadas contrasta com a crescente sensação de impunidade diante dos frequentes roubos de motocicletas na cidade.
As espadas de fogo, artefatos pirotécnicos artesanais, são parte intrínseca da cultura local há mais de 150 anos. Confeccionadas manualmente com taboca, pólvora e barro, são passadas de geração em geração como símbolo dos festejos juninos. No entanto, em 2011, a prática foi proibida por decisão da Vara Criminal de Cruz das Almas, atendendo a um pedido do Ministério Público da Bahia, que alegou riscos à integridade física dos moradores e ao patrimônio público .
A proibição baseia-se no Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), que considera crime a posse, fabricação e comércio de artefatos explosivos sem autorização legal . Desde então, espadeiros — muitas vezes trabalhadores sem antecedentes criminais — tornaram-se alvos de operações policiais, cumprindo ordens judiciais.
Enquanto isso, o roubo de motos segue como um problema crescente. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que o Brasil registra um furto de motocicleta a cada 4 minutos. Em Cruz das Almas, relatos de assaltos e furtos à luz do dia são comuns, e as vítimas frequentemente alegam que as investigações não avançam. As quadrilhas envolvidas são estruturadas, com ramificações interestaduais e esquemas de receptação, exigindo estratégias complexas por parte das forças de segurança.
A população questiona: por que a tradição é combatida com tanto rigor, enquanto o crime organizado parece atuar com liberdade? É importante compreender que a polícia cumpre determinações do Judiciário e do Ministério Público. O desafio está na efetividade das ações judiciais frente aos crimes que realmente ameaçam a segurança da população.
Em tempos de insegurança crescente, Cruz das Almas clama por uma abordagem equilibrada, que respeite suas tradições culturais e combata eficazmente o crime organizado.
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