Ao menos sete tradicionais festas privadas de São João não vão acontecer no interior da Bahia neste ano. Juntas, elas movimentavam a economia e atraiam turistas de fora do estado, mas perderam espaço para os shows gratuitos desde a pandemia. Prefeituras de 328 municípios já declararam gastos de R$ 333 milhões com a contratação de artistas para o período junino. Os shows continuam agitando as cidades, mas a mudança de perfil das festas afastou parte dos turistas, segundo moradores.
O corretor de imóveis Carlos Cabral analisa que o cancelamento do Forró do Piu-Piu, que não acontece em Amargosa desde 2022, diminuiu a procura de turistas por hospedagem na cidade. Ele trabalha com aluguel de casas e apartamentos durante o período junino. Diferentemente de anos anteriores, Carlos ainda possui 15 imóveis disponíveis para locação na semana que antecede o feriado do dia 24. No período, as diárias ficam até 300% mais caras na Bahia, como mostrou levantamento do Correio.
“Os turistas levam em consideração os preços e as atrações da festa. O Forró do Piu-Piu atraia muita gente para a cidade e quebrou todo mundo quando foi cancelado. A procura caiu cerca de 40%”, diz. Os visitantes vêm, em sua maioria, de cidades como Salvador, Vitória da Conquista e Jequié. O corretor ainda acredita que, sem a festa privada, o público mudou. “Antes, vinham mais jovens. Hoje, são pessoas mais velhas que frequentam a cidade”, fala.
Os ingressos para o Forró do Piu-Piu custavam entre R$ 120 e R$ 500, a depender do setor do evento. A última edição teve shows de Léo Santana, Henrique e Juliano, Forró do Tico e Danniel Vieira. Localizada a 388 quilômetros de Amargosa, a cidade de Senhor do Bonfim também perdeu sua principal festa fechada: o Forró do Sfrega.
Clício Santos, dono da Pousada Renascer, em Senhor do Bonfim, lamenta o fim do evento que atraia cerca de 20 mil pessoas por ano. Apesar de todos os seis quartos da pousada estarem reservados para o São João, o proprietário analisa que a procura foi menor neste ano.
“Em anos anteriores, o pessoal já estava procurando para alugar em janeiro e fevereiro. Dessa vez, foi mais em cima da hora. As pessoas estão se policiando mais por estarem sem dinheiro, e aqui também existia o Forró do Sfrega, que era muito conceituado”, diz. “A festa não vai acontecer e isso vai afastando a clientela”, lamenta Clício Santos.
A opinião, no entanto, não é compartilhada por todos os moradores da cidade. Aldenia do Nascimento, dona do Hotel Maranata, em Senhor do Bonfim, avalia que a procura cresceu neste ano, em comparação com 2023. “A procura sempre é grande aqui na cidade e este ano não foi diferente. Acredito que, em comparação com o ano passado, aumentou cerca de 20%. Nós só temos diárias disponíveis, mas os pacotes para todos os dias de festa já esgotaram”, diz.
O aumento dos preços para contratação de shows após a pandemia é um dos obstáculos para a realização dos eventos fechados no interior. Com o vácuo criado pelos cancelamentos das festas de camisa, como são chamadas, os municípios se tornaram os principais realizadores dos festejos.
Até o dia 17 de junho, 328 cidades já haviam declarado investimentos para contratação de artistas ao Ministério Público da Bahia (MP-BA). Os dados são disponibilizados online, no Painel dos Festejos Juninos. Diretor de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih-BA), Thiago Sena analisa que as festas gratuitas têm potencial para atrair turistas.
“Nós vemos o movimento de festas públicas com potencial de atrair turistas. O turismo no São João ainda é restrito a pessoas de dentro do estado, apesar de a procura por pessoas de fora da Bahia estar aumentando”, diz.
Além do Forró do Piu-Piu e do Forró do Sfrega, também não vão acontecer, neste ano, o Brega Light, em Ibicuí, Forró do Bosque, em Cruz das Almas, Forró do Lago, em Santo Antônio de Jesus, Forró do Bongo, em Alagoinhas, e Forró Coffee, em Itiruçú.
Fonte: Correio
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