Bahia

“Não fui preso, estava em Salvador. A coisa foi direcionada para prejudicar o meu nome”,  declara tenente-coronel sobre operação El Patron

O tenente-coronel Hildon Lobão, um dos policiais militares citados no processo da Operação El Patron e seu desdobramento através da operação Hybris, que desarticulou uma estruturada e sofisticada Organização Criminosa (Orcrim) especializada na lavagem de capitais advindos de jogos de azar, agiotagem, receptação qualificada, entre outras infrações penais, atuante em Feira de Santana e cidades circunvizinhas, esteve nos estúdios do Acorda Cidade na manhã desta quarta-feira (10), para comentar sobre a citação de seu nome, bem como notícias que foram veiculadas a seu respeito.

Durante a entrevista, o tenente-coronel, falou sobre a sua relação com o deputado estadual Binho Galinha, e de acordo com ele, não tinha conhecimento de informações que envolviam o nome do deputado na prática de crimes, e sua relação com Binho Galinha era apenas de conhecidos e com quem negociou a compra de um terreno.

À princípio, Hildon Lobão explicou como recebeu a informação de que a Polícia Federal estaria com um mandado de busca e apreensão em sua residência, em Feira de Santana.

“Eu trabalho em Salvador atualmente porque sou Coordenador de Direitos Humanos e estava em meu apartamento, me vestindo, quando de repente minha esposa me liga nervosíssima dizendo que a Polícia Federal estava lá em um mandado de busca e apreensão. Automaticamente tirei minha farda, me dirigi para Feira de Santana o mais rápido possível e ao chegar aqui, fomos ao escritório dos advogados para tentar entender o que tinha acontecido. Não sabíamos do que eu estava sendo acusado. Fizemos a procuração, os advogados deram vista aos autos e pasme, a única coisa que tem nos autos foi sobre uma venda de um terreno pelo deputado Binho Galinha ao casal José Hildon e Kátia Cilene”, disse.

Compra de terreno

Segundo o tenente-coronel, a compra de um terreno, realizada através de uma negociação com o deputado Binho Galinha teria sido uma das motivações para que fosse um dos alvos da Operação Hybris. Porém, a documentação, bem como o pagamento foram realizados legalmente.

O tenente-coronel também pontuou que a negociação da área adquirida teria acontecido de forma parcelada e em espécie.

“Eu estou comprando um terreno no valor próprio, pago propriamente, documentado e se eu estivesse comprando alguma coisa errada, eu colocaria no meu nome e no nome da minha esposa? Então, para a minha boa fé, eu pratiquei o ato correto e legal. O terreno é documentado, tem escritura pública. Paguei em espécie e dividido. Desde quando você pagar em espécie significa que você quer fazer ocultação? Aonde está escrito no ordenamento jurídico pátrio que comprar em dinheiro ‘vivo’ na expressão popular, é cometimento de crime ou se quer ocultar qualquer coisa para a Polícia ou para a Receita Federal? Esse valor foi dividido, não tínhamos esse dinheiro completo e na negociação foi dito ao deputado Binho que seria dividido e quando chegasse a data do vencimento, às vezes tínhamos que tomar emprestado com outros amigos para quitar esse débito. Em Feira de Santana todo o comércio tem uma praxe, quando paga em dinheiro é X, paga em cartão é X e Y e quando paga em cartão de crédito é X, Y e Z. Então, tem que prender Feira de Santana”, contou.

Outro ponto mencionado na operação deflagrada na terça-feira (9), foi que através dos alvos investigados, notou-se através da Receita Federal uma incompatibilidade de renda dos investigados com as suas contas bancárias.

Questionado sobre esta afirmação, José Hildon enfatizou que o seu faturamento mensal é fruto de outras funções que exerce, sendo sócio de uma empresa de granitos junto à esposa, além da comercialização de animais.

“Renda incompatível não. Eu sou casado, minha esposa tem a empresa dela onde somos sócios e toda movimentação financeira é feita através de minha conta, a compra do granito é feita através do meu cheque. Ontem, quando os prepostos da Polícia Federal estiveram em minha casa, eles levaram todos os comprovantes de transferência PIX da conta da empresa para a minha conta, está lá comprovado. Hoje inclusive, vamos solicitar à empresa que nos vende o granito a cópia dos cheques. Toda a movimentação financeira é feita através da minha conta. Sou policial militar, mas em paralelo à isso eu sou médico veterinário e eu atendo, eu sou administrador, sou advogado, em paralelo à isso eu sou sócio da minha esposa, crio cavalos e vendo potros. E em paralelo à isso eu vendo carneiro e bode em Morro do Chapéu, onde vendo para abate. Eu tenho que correr atrás, eu não sei roubar. A empresa é de mármores, granito, móveis planejados”.

Durante o mandado de busca e apreensão realizado na residência do tenente-coronel da Polícia Militar foram levados, conforme ele, documentos do terreno negociado com o deputado federal Binho Galinha, a documentação da residência em Feira de Santana e mais alguns arquivos.

Relação com Binho Galinha

Outro fator mencionado pelo tenente-coronel Lobão foi a sua relação com o deputado Binho Galinha, também alvo da Operação El Patron. Segundo o agente público, qualquer convivência direta com Binho Galinha teria sido por questões administrativas quando ainda era comandante da 67ª Companhia Independente da Polícia Militar, no ano de 2022.

“Eu não tenho bola de cristal para saber tudo o que acontece em Feira de Santana e pra saber quem está lavando dinheiro ou quem está cometendo crime. Eu sou da área operacional, não de inteligência. Sobre Binho Galinha, quem aqui não conhece Binho Galinha? Eu conheci Binho Galinha em 2022, na campanha dele quando eu comandava a 67ª CIPM e ele necessitava de liberação de motociata, cavalgada. Minha relação era sempre essa, mas nunca andei em bar, festa com Binho. Fui duas vezes em sua casa para levar partes vencidas do terreno em espécie a ele, mas relação de proximidade, negativo”.

Afastamento

Atualmente afastado do cargo de Coordenador do Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos da Polícia Militar da Bahia, Lobão disse que aguarda a confirmação do período que estará sem desenvolver as atividades na capital baiana, mas que espera que o afastamento seja temporário.

Ainda conforme o tenente-coronel, o vazamento do seu nome como alvo da operação teria sido “direcionado a prejudicá-lo”, e que a sua vida pública baseada em honestidade e legalidade pode gerar inveja e ciúme de terceiros.

“O afastamento não se refere se é temporário. Creio junto com os advogados já que no processo não tem sentença, não tem uma prova cabal de que eu estaria participando de uma milícia, que deva ser temporário. A coisa foi tão perversa que disseram que eu estava em casa e que eu tinha sido conduzido e até preso. Mas eu não fui conduzido ou preso. Eu estava em Salvador e fui à Feira de Santana. A coisa foi tão direcionada a prejudicar o meu nome, minha boa imagem, minha boa forma porque sou respeitado em Feira de Santana daquilo que eu fui e que sou, dentro da legalidade, da honestidade dentro de todos os princípios legais que um agente do estado tem que proceder. Todo lugar tem inveja, todo lugar tem pessoas que são despeitadas. Sou trabalhador, sou homem que gosta de estar na rua defendendo a sociedade. Eu me preparei o tempo todo, fui estudar a área jurídica para ser um bom oficial. Sou trabalhador e isso gera inveja, ciúme”, disse.

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