Por: Ygor da Silva Coelho
Moacyr Simões. Foi um dos primeiros jovens que conheci em Cruz das Almas ao vir estudar no Colégio Estadual Alberto Torres-CEAT, em 1964. Na época, o meu tio Maurício Coelho, estudante de Agronomia, era professor do colégio. Sabendo disso, até o final da sua vida, Moacyr Simões chamava-me carinhosamente de Titio Momó.
Moacyr era um jovem inquieto, um desbravador, incentivador. Fez o Científico no CEAT, Ciências Exatas na Universidade Federal da Bahia e, em seguida, decidiu enfrentar o curso de Direito.
Sempre disposto a ultrapassar fronteiras e enfrentar desafios, os títulos não lhe bastaram e ele se encaminhou para o jornalismo, tornou-se radialista. Conhecimento, vivência e dotes de comunicador não lhe faltavam. A princípio, na Rede Líder de Publicidade, do seu saudoso companheiro e amigo Silvestre Caldas. Mais tarde abraçou as emissoras de rádio da cidade e da região.
Durante um período, atuou como assessor de comunicação na Embrapa, mas o trabalho técnico com mandioca e frutas tropicais o limitava. Seus horizontes iam além da divulgação de resultados de pesquisa científica. E voltou ao rádio.
Se houvesse uma enquete na época, talvez fosse apontado como o radialista de maior audiência no interior da Bahia.
Suas matérias, às vezes, chocavam o público desacostumado com as notícias das camadas C e D da sociedade. Mas, ao mesmo tempo em que trazia notícias de correr lágrimas, recheava o programa com doçura e carinho, em especial com a população pobre e carente de atenção.
Nunca conversei com Moacyr sobre jornalismo, mas sempre me pareceu que a sua inspiração veio de Fernando José e do programa Balanço Geral, um formato de jornalismo entre o policial e comunitário que influenciou muitas emissoras de rádio e de TV do Brasil. Um formato que não só persiste, como evolui em audiência.
Sem uma emissora de maior potência, numa época anterior à popularização da internet, a visibilidade de Moacyr Simões era prejudicada, sendo mais ouvido no Recôncavo, onde ele passou a ser referência nas cidades e no campo.
- Deu no programa de Moacyr Simões!
Moacyr tinha uma forma irreverente e clara de comunicar, falava a linguagem do agricultor e agradava também os ouvintes da cidade.
Fui surpreendido com o seu falecimento. Muitas vezes, sentamos lado a lado no ônibus da Breda Turismo, nas viagens de Cruz das Almas para Salvador. Eu ia a passeio e ele lutar por mais um título universitário, o de Bacharel em Direito pela UFBA.
Suas paixões eram a família, as letras, a música e a comunicação. Era um artesão das palavras com o microfone em punho. Advogado por formação, radiojornalista por vocação, músico por prazer, tocava guitarra e violão.
Durante seu tempo, Moacyr foi um referencial. Fosse hoje, diríamos que as notícias dadas por Moacyr viralizavam. Era um apaixonado pela comunicação, suas palavras no rádio traduziam a sua emoção. Naquele tempo, em Salvador se dizia: “Saiu na Tarde, é verdade”. Aqui, “Moacyr Simões era verdade e informações”.
Se eu pudesse pedir algo ao Senhor por Moacyr Simões eu pediria que a sua voz ecoasse um dia magicamente nos auto-falantes da cidade para que os jovens de hoje conhecessem seu estilo. A Praça Senador Themístocles pararia para ouvir.
O radialista costuma ser testemunha da história, captura os momentos importantes da história, muitas vezes correndo risco de vida para nos informar, nos fazer pensar, divertir, sorrir. Assim foi Moacyr Simões, assim são muitos dos nossos radialistas de Cruz das Almas que, junto com Moacyr, eu homenageio com essa crônica.
Texto em memória de Moacyr Simões e dedicado aos radialistas da minha cidade.
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