Recôncavo com Dendê

Cruz das Almas 125 anos: conheça a história da culinária

Cruz das Almas, uma das cidades mais importantes do Recôncavo Sul, foi criada através da Lei nº 119 de 29 de julho de 1897, desmembrando-se de São Félix.

Diz a lenda que o nome Cruz das Almas, faz referência aos antigos tropeiros que passavam pela região, que ao chegarem na antiga vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, encontravam no centro da vila uma cruz de frente a Igreja Matriz onde paravam e rezavam para as almas dos seus mortos.

Os primeiros povoadores do município procederam de São Félix e Cachoeira, no século XVIII, atraídos pela uberdade do solo. Os precursores estabeleceram plantações de cana-de-açúcar, fundaram engenhos e iniciaram a construção do arraial no grande planalto, à margem da estrada real que, partindo de São Felix, se dirigia ao Rio de Contas e em seguida para Minas Gerais e Goiás.

Tanto Cruz das Almas quanto o toda a região do recôncavo baiano, tiveram sua cultura diretamente influenciada pelos escravos africanos trazidos para trabalhar nas lavouras e na mineração. Como a região foi um importante entreposto para a chegada destes escravos, surgem manifestações culturais muito importantes, que hoje identificam todo o Brasil.

Por exemplo, todo o recôncavo é considerado o berço do samba de roda. Outra manifestação cultural, revela a força do sincretismo religioso, que é a Irmandade da Boa Morte, unindo os cultos católicos e das religiões afro-brasileiras, muito forte na cultura do recôncavo e de várias partes do Brasil. Somente nessa região, o governo do Estado catalogou mais de 400 terreiros de candomblé em 2015.

Mas é na culinária que a influência cultural é notada com muita força. Nosso cardápio tem forte influência negra desde os temperos, o preparo e o ritual que para as religiões afro-brasileiras passa pelo alimento destinado a cada orixá.

Tem-se por exemplo, a tradição familiar de produzir licores de frutas, relacionada diretamente com os festejos juninos. E muitos outros pratos, como é o caso do acarajé, um bolo de feijão temperado e moído com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê, considerado hoje em dia um patrimônio nacional.

Eles introduziram também muitos ingredientes diferentes como leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, a pimenta malagueta. E como não falar da famosa feijoada, que o preparo era feito pelos africanos escravizados, que usavam feijão preto e sobras de carnes, dispensadas pelos senhores de engenho por não serem partes nobres, como é o caso dos pés, orelhas, rabo e carne seca do porco.

O tropeirismo também teve forte influência na culinária, este surgiu como uma nova atividade comercial com finalidade de promover a interligação dos pólos econômicos do Brasil. As mercadorias importadas e alimentos eram trazidos no lombo de mulas e cavalos que cortavam várias trilhas capazes de integrar diferentes pontos da geografia nacional.

Quando não aproveitavam as estradas há muito tempo abertas pelos índios, os tropeiros tinham o trabalho de desbravar a mata virgem para a criação de novas rotas.

A contribuição de diversos povos propiciou variadas receitas, destacando as preparadas com mandioca, milho, cana-de-açúcar e carne de porco. Surgiram, dessa maneira, o virado, ou feijão tropeiro, as paçocas, as doçarias e quitandas e o uso das pimentas.

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