De acordo com a lenda, o nome “Cruz das Almas” remonta aos tempos dos tropeiros que, ao passarem pela região, encontravam uma cruz em frente à Igreja Matriz da antiga vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, onde paravam para rezar.
Em seus 126 anos de existência, Cruz das Almas tinha tudo para celebrar uma história perfeita, repleta de realizações que ecoam a força da cidade, mencionada no hino e na poesia de Floriano de Araújo Mendonça: “A pujança da Pátria nos lembra teu ardor de progresso e de paz!”
No entanto, a política, definida como uma forma de atividade ou práxis humana, está intimamente ligada ao exercício do poder sobre outros indivíduos.
Foi a política que criou o município de Cruz das Almas através da Lei nº 119 de 29 de julho de 1897, desmembrando-se de São Félix. O Arraial foi elevado à categoria de Vila e Município, tornando-se autônomo pela Lei Estadual nº 119, de 29 de julho de 1897.
Desde então, a disputa política sempre permeou as festividades da cidade, especialmente nas Sessões Solenes na Câmara Municipal. Lembro que no passado, havia acordos de pacificação entre os dois grupos políticos da cidade para que a solenidade fosse conduzida em um clima de celebração e paz. Felizmente, os acordos eram cumpridos! Porém, os tempos mudaram.
Ontem (29), de forma didática, como fizeram os tropeiros nos idos da fundação da cidade, o Bispo Dom Antônio Tourinho Neto dedicou sua brilhante homilia na Igreja Matriz a pedir pela paz. Com palavras carregadas de civismo, ele clamou por concórdia, direcionando sua liturgia aos grupos políticos da cidade que já iniciaram precocemente a corrida eleitoral do próximo ano. Foi uma fala forte, carregada de boas intenções do bom Pastor.
Minutos depois, após a convocação do Bispo, todos juntos inauguraram o Monumento em homenagem ao Monsenhor de Souza Neiva. Por um instante, o pedido da Autoridade Eclesiástica da cidade estava sendo atendido e marcou a história do aniversário dos 126 anos de Emancipação Política como um dos poucos momentos em que oposição e governo estavam juntos em uma inauguração na cidade.
No entanto, ao atravessar a Praça Senador Temístocles, rumo à Rua João Gustavo da Silva, ao som da Filarmônica Euterpe Cruzalmense, os homens públicos da cidade marcharam para a Câmara de Vereadores, e a homilia do Bispo deu espaço a um prenúncio de embate.
O Prefeito, que, paradoxalmente, se colocou como vítima no discurso feito ainda na Matriz, tinha um verdadeiro exército pronto para atacar quem democraticamente se opõe ao seu governo, enquanto a oposição se preparava às pressas para inesperadamente se defender.
O art. 29, VIII, da nossa Constituição Federal e segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, os vereadores possuem imunidade material, sendo invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. Em síntese, a harmonia entre os poderes deve prevalecer quando os dois – Legislativo e Executivo – se juntam, sobretudo, solenemente para celebrar o jubileu da cidade.
É descabido um agente político nomeado usar o seu momento de ser agraciado com a maior Outorga da cidade para desacatar aqueles que foram eleitos. Essa batalha é o prenúncio de uma guerra que só será travada nas urnas no próximo ano (2024).
A motivação é a estapafúrdia demissão de sete dezenas de pais e mães de família que, na verdade, são vítimas da precariedade dos mecanismos de contratação na prefeitura de Cruz das Almas. Esse é o pano de fundo dessa contenda política que estragou a festa da cidade.
Infelizmente, houve negligência em relação aos comandos do poder executivo e principalmente do legislativo, tendo como consequência um embate verbal entre os dois grupos políticos durante a Sessão Solene, que acabou sendo encerrada aos gritos e ameaças mútuas. Neste episódio, não há vencedores. Todos perdem: nossa democracia, a civilidade e a oportunidade de seguir os conselhos do Bispo.
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