O cenário de 2018 na disputa ao governo da Bahia pode se repetir oito anos depois. Naquele ano, o então prefeito reeleito de Salvador em 2016, ACM Neto, cogitou uma candidatura ao Palácio de Ondina, sede da gestão estadual. Do outro lado, ele tinha como adversário o então governador Rui Costa, que possuía bons índices de aprovação da sua gestão e buscava a recondução ao cargo.
Após perceber que poderia ter uma derrota nas urnas que poderia complicar o seu futuro político, Neto decidiu, aos “45 do segundo tempo”, por não disputar aquele pleito — só viria a fazê-lo em 2022, na disputa contra Jerônimo Rodrigues e acabou perdendo a eleição. Há sete anos, a escolha, então, foi por Zé Ronaldo. O resultado foi uma ampla vitória de Rui Costa, ainda no primeiro turno, uma das maiores da histórica política recente da Bahia.
Agora, faltando pouco mais de um ano antes do primeiro turno da eleição de 2026, a única diferença parece ser que o panorama vem ficando mais claro de forma antecipada. Diante das constantes queixas sobre o pouco diálogo que tem com aliados, acrescentando a isso o fato de Jerônimo vir angariando apoios a cada dia que passa, nos bastidores vem crescendo a possibilidade que ACM Neto, novamente, deve deixar para outro momento o seu tão propagado desejo de concorrer ao governo da Bahia.
“A relação de Jerônimo com a classe política é muito boa. Se ele [Jerônimo] realmente soltar as obras que estão combinadas para a execução, não tem condição nenhuma de ACM Neto disputar essa eleição. Como dizia antigamente, seriam favas contadas”, afirmou ao Portal A Tarde, parceiro do JornalZero75 ,um deputado sob condição de anonimato.
“Para Neto ter chance, seria um conjunto de situações adversas. Por exemplo, um governo não fez nada para os municípios. Mesmo assim, ainda é uma eleição que favorece Jerônimo que não tem feito exatamente um grande governo, tem feito uma gestão ‘feijão com arroz’, entregando pouca coisa. Porém, ele tem muito carisma, bom no trato pessoal. Atrelado a isso, você tem outro ponto que poderia favorecer essa expectativa da [eleição] nacional. Se houver uma disputa, ele pode tentar surfar, por exemplo, se Tarcísio for o candidato da direita, o que eu particularmente não acredito”, prosseguiu.
No entanto, outro parlamentar ouvido pelo Portal A Tarde, ainda se mostrou cético com relação a essa possibilidade. “A desistência do ex-prefeito seria a confissão de que não tem coragem nem propostas para enfrentar o projeto transformador em curso na Bahia […] Ele não tem estatura para enfrentar nosso conteúdo e o povo baiano, que rejeita a velha política representada pelo carlismo, já desistiu do aliado de Bolsonaro. Acredito que nem como blogueiro ele terá sucesso, apesar da tentativa”, disparou.
Sem a confiança da classe política
Outro fator levantado por esse interlocutor é que ACM Neto não teria a confiança da classe política e, por isso, tomaria a mesma decisão que tomou em 2018. “O problema de Neto é que ninguém confia nele na política. Ninguém acredita que ele será um candidato capaz de cumprir compromissos. Então, ele pode ser um candidato que irá cumprir a tabela. Mas, quem conhece ele, sabe que ele não vai pra uma campanha correndo risco de sair desmoralizado”, acredita.
Para ele, o destino de ACM Neto, em 2026, pode ser concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados para, em 2028, tentar retornar à Prefeitura de Salvador. “Na capital, não vejo ninguém em condições de enfrentá-lo, a menos que Rui Costa decida disputar a eleição contra ele”, afirmou.
“Quem está na política […] Você vai pelos depoimentos […] ele não dá uma coisa que é atenção. Não atende a ligação, não responde, não liga de volta, não troca uma mensagem. Neto não consegue se viabilizar como um candidato que conquista a confiança da classe política. Ele tem voto no povo, ele tem um recall, ele chegou perto de ganhar uma eleição, tem as virtudes, só que ninguém mais confia”, finalizou.
Tâmile Conceição, é quilombola e jornalista em formação pela UFRB, apaixonada por contar histórias e mergulhar na rica cultura do Recôncavo. Compreendendo a importância do jornalismo para sua comunidade, prioriza a apuração em seu trabalho. Atualmente, produz conteúdo para site, Instagram e rádio, compartilhando a diversidade e a riqueza cultural da sua região. Vencedora do Prêmio Motezuma em Telejornalismo com a reportagem sobre o Coletivo das Artes da cidade de São Félix, é também criadora do radiodocumentário Santa Bárbara como Símbolo Cultural e Religioso em São Félix, que reflete sua dedicação à preservação da cultura, da história e das tradições do seu povo.
